terça-feira

Um durango na Daslu

Por Denis Cavalcante

Sempre tive vontade de conhecer essa tal de Daslu. Já que estava em São Paulo, por quê não ir? Ainda mais depois que me disseram que lá não existe nenhuma peça que custe menos de três dígitos, resolvi dar uma de
São Tomé e ver para crer.
A entrada já foi um problema. O segurança perguntou pelo meu carro - ou motorista. Quem já foi sabe muito bem: na Daslu - acreditem - não se entra a pé, somente motorizado.
Fingi que não era comigo e entrei. Fui recepcionado por uma loira escultural com sorriso de anúncio de dentifrício, uma sósia escrita e escarrada da Ana Hickman - com direito a 1m30 de pernas, chapinha no cabelo, olho azul e muito mais.
"Where are you from?".
"Belém do Pará".
"I beg your pardon!"
Tava na cara que eu não era paulistano. Mas daí a me confundir com gringo, já é demais.
Eu lá tenho cara de estrangeiro!
Como um cão sabujo, onde eu ia, ela ia atrás.
Dos milhares de itens que admirei boquiaberto, um em particular me encantou. Uma bolsa tiracolo Prada pra lá de maneira que imaginei que coubesse no meu orçamento. Ressabiado, indaguei o preço.
"Nove, apenas nove. E o senhor pode dividir de três vezes no cartão".
"Nove o quê?"
"Nove mil..."
"Égua!"
A pequena ficou tão assustada com minha reação que cheguei a pensar que fosse chamar os seguranças. Mas não. Acho que ela sacou que daquele mato não sairia cachorro, no máximo um carrapato. Fechou a cara, deu meia-volta e sumiu. Já que estava na chuva, resolvi me molhar.
Entrei num salão onde só tinha Armani. Como já estava enturmado, perguntei o preço de um "vestidinho" de festa. Adivinhem? 100.000 pilas.
Tu és doido!
Uma estola de zibelina? 60.000. Fico imaginando quantos bichinhos foram sacrificados para esquentar o lombo de uma madame. Um blaser Ermenegildo Zegna (isso lá é nome de grife?), 13.000. Um óculos Gucci, 4.500. Uma cuequinha básica do Valentino, 260. Com direito a ouvir essa pérola do vendedor:
"Leve logo meia dúzia, tá na promoção!".
Imaginem quanto ela custava antes.
Na adega climatizada não foi diferente. Um Romaneé-Conti, safra2000 - aquele do Lula - estava por módicos 8.000 reais. Uma garrafa de Johnnie Walker Blue, envelhecida 80 anos - uma das raras existentes no planeta, 55.000. Fiz as contas e verifiquei que no final saí no lucro. "Charlei", vi gente famosa, coisas bonitas, tomei mineral Badoit, capuccino, Prosecco, champanhe Taittinger, fartei-me de canapés, fois gras, blinis com caviar (não era Beluga). Sou duro, mas sei o que é bom. Até confit de canard tracei. De quebra, profiteroles e apetitosos bombons trufados. As horas passaram voando. Minha acompanhante finalmente apareceu e perguntou:
"Vamos almoçar?"
"Almoço? Estou almoçado e jantado!"
Depois de conhecer quase tudo descobri que a Daslu é uma espécie de zoológico sem grades. Só que os bichos somos nós. Eu e você.
Acabado, me esparramei num confortável sofá. Enquanto esperava o resto da turma chegar, abri um livro e relaxei. Mal virei a segunda página, dois novos ricos falando alto, com mais sacolas do que mãos, sentaram ao meu lado esnobando:
"Amanhã vamos para o nosso haras em Catanduva. O réveillon será no Guarujá".
Me deu uma raiva...
Peguei meu celular e resolvi mentir um pouco:
"Fulano, não encontrei nenhum 'Summer' para o réveillon. Abastece o jatinho. Partimos amanhã cedo para Paris. Essa Daslu tá um lixo!
"A cara que os dois fizeram, não tem preço.

quinta-feira

tortura moderna

Para as q já fizeram, um consolo em saberem que ñ estão só, para as q ñ fizeram... Um ALERTA para ñ dizerem q ñ foram avisadas!
Para q valorizem suas companheiras.... Olhem quanta dedicação!

"Tenta sim. Vai ficar lindo."
Foi assim q decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram q eu ia me sentir 10 quilos + leve. Mas acho q pentelho ñ pesa tanto assim. Disseram q iriam amar, q eu nunca + ia querer outra coisa. Eu imaginava q ia doer, pq elas ao menos me avisaram q isso aconteceria. Mas ñ esperava q por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.
- Oi, queria marcar depilação com a Penélope.
- Vai depilar o q?
- Virilha.
- Normal ou cavada?
Parei aí. Eu lá sabia o q seria uma virilha cavada. Mas já q era pra fazer, quis fazer direito.
- Cavada mesmo.
- Amanhã, às... deixa eu ver...13h?
- Ok. Marcado.

Chegou o dia em q perderia 10 quilos. Almocei coisas leves, pq sabia lá o q me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui. Assim q cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar igual a ela, legal. Pediu q eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado. Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas gemidos, gritos, conversas. Uma mistura de Calígula com O Albergue. Já senti frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis q chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada de cortinas.
- Querida, pode deitar.
Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca.
Penélope mal olhou pra mim. De costas, ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus, era O Albergue mesmo. De repente ela vem com um barbante na mão. Fingi q era natural e sabia o q ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e amarrou bem forte.
- Quer bem cavada?
-...é... é, isso.
Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.
- Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco se ñ vai doer mais ainda.
- Ah, sim, claro. Claro nada, ñ entendia porra nenhuma do q ela fazia. Mas confiei. De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula melada de um líquido viscoso e quente (pela fumaça).
- Pode abrir as pernas.
- Assim?
- Ñ, querida. Q nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado.
- Arreganhada, né?
Ela riu. Q situação. E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar. Foi rápido e fatal. Achei q toda a pele de meu corpo tivesse saído, q apenas minha ossada havia sobrado na maca. Ñ tive coragem de olhar. Achei q havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o SAMU. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir q era tudo supernatural.
Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de q doesse mais.
- Tudo ótimo. E você?
Ela riu, como quem pensa "q garota estranha". Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes. O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava q era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer.Todas recomendam a todos pq se cansam de sofrer sozinhas.
- Quer q tire dos lábios?
- Ñ, eu quero só virilha, bigode não.
- Ñ, querida, os lábios dela aqui ó.
Ñ, ñ, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios? Putz, q idéia. Mas topei. Quem está na maca tem q se foder mesmo.
- Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor.
Ñ o bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.
- Olha, tá ficando linda essa depilação.
- Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto.
Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e pedi q fosse um pesadelo. "Me leva daqui, Deus, me teletransporta". Só voltei a terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.
- Vou dar uma pinçada aqui pq ficaram um pelinhos, tá?
- Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada.
Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da puta arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia q o motivo para isso ainda estava por vir.
- Vamos ficar de lado agora?
- Hein?
- Deitar de lado pra fazer a parte cavada. Pior ñ podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.
- Segura sua bunda aqui.
- Hein?
- Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.
Tive vontade de chorar. Eu ñ podia ver o q Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o olho q nada vê. Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar, peidar na cara dela, como se pudesse envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo:
O marido perguntaria: - Tudo bem, Pê?
- Sim... sonhei de novo com o cu de uma cliente.
Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu tuin peaks. Ñ sabia se ficava com + medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei q ela deve ver mil cus por dia. Aliás, isso até alivia minha situação. Pq ela lembraria justamente do meu entre tantos?
E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá? Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei q a bunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza ñ havia nem uma preguinha pra contar história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto.
- Vira agora do outro lado.
Porra.. pq ñ arrancou tudo de uma vez?
Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A bruaca da salinha do lado novamente abre a cortina:
- Penélope, empresta um chumaço de algodão?
Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo ñ fazia sentido. Estava me depilando pra quem? Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente.
- Terminamos. Pode virar q vou passar maquininha.
- Máquina de q?!
- Pra deixar ela com o pêlo baixinho, q nem campo de futebol.
- Dói?
- Dói nada.
- Tá,ta,ta... passa essa merda...
- Baixa a calcinha, por favor.
Foram dois segundos de choque extremo. Baixe a calcinha! Como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao cu. O q seria baixar a calcinha? E essa parte ñ doeu mesmo, foi até bem agradável.
- Prontinha. Posso passar um talco?
- Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha.
- Tá linda! Pode namorar muito agora.
Namorar...namorar... eu estava com sede de vingança. Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada. Queria comprar o domínio preserveasbucetaspeludas.com.br

água e sabão

Numa bela manhã, dia de semana (não me lembro qual),
estou indo a padaria do bairro onde moro tomar meu café,
pelo caminho árvores, cachorrinhos lindos passeando
com seus donos, passarinhos cantando... o sol ainda fraquinho
batendo em meu rosto...
Alguns metros antes da padaria, há duas escolinhas de ensino
infantil. Ah! não falta mais nada pra agradar a manhã de um bairro
bacaninha da zona sul. Crianças chegando felizes nas escolinhas,
acompanhadas de seus pais, babás e na van escolar...
Quando passei pela cena típica de porta de escola, vi uma
linda menininha com duas trancinhas nos cabelinhos
com a carinha pra fora da janela da van escolar, ela deveria ter
no máximo, no máximo 6 anos, trocando os dentes de leite.
Com sua vozinha ela gritou para o coleguinha que já havia descido
e entrava na escolinha:

- Seu filho de uma puta! Sua mãe é igual pizza, dá pra oito!
...
...

Naquele momento a minha manhã deu uma tremida no visual!
Fiquei uns 40 segundos paralizada na calçada, até atinar que
não tinha nada a ver com aquilo, mas no local haviam pais,
professores na porta da escolinha que pouco se importaram
com a bela demonstração de afeto e educação da meninha
com suas trancinhas pra com seu coleguinha.

Imaginando quais as outras mais belas lições que as
crianças estão aprendendo na escolinha, fico com vergonha!

"soninho no reservado"



Testemunhar a cena que se repete TODAS as vezes que preciso
utilizar algum transporte público é dose!
PESSOAS "NÃO ESPECIAIS" UTILIZANDO OS ASSENTOS RESERVADOS.
o mais incrível é que sem o menor pudor!
numa tremenda cara de pau!
e quando fingem estarem dormindo?
e quando comentam que fazem isso numa roda de amigos?
fazendo de sua atitude uma piada, e o pior: gerando gargalhadas!
gostaria imensamente de saber o que se passa pela cabeça destas pessoas!

claro que o uso é livre na ausência dos favorecidos, mas esse não é o caso.

o condutor fica alertando de de 4 em 4 minutos algo do tipo:
- os assentos de cor tal são reservados... RESPEITEM blá blá blá...
eles estão "dormindo" não é mesmo? não podem escutar...
mas quando chega na estação tal, soa como se fosse um despertador!

não é INCRÍVEL a capacidade destes seres?

mais incrível ainda é que estas mesmas pessoas desacreditam na evolução do país...
culpando sempre seus governantes ou qualquer outrem...
TODOS são culpados! menos eles (claro) cidadãos tão exemplares...
pra piorar estes cidadãos estão proliferando... (reparem o perigo)

juro que quando estiver velha vou "causar" nos transportes coletivos!
tenho ótimas idéias rs
Ah pobrezinho! tá com soninho?

PÁÁAFFFT!
com minha bolsinha de crochê e um bom naco de pedra dentro,
bem na cabecinha da criaturinha sonolenta!
- essa porra de assento é reservada pra mim "mano" vaza!
direi na maior educação...

(a imagem é apenas uma ilustração esta pessoa não estava cometendo este ato)








segunda-feira

caneta

anoto pra não esquecer
pra não perder
meus números
os números
teus números
outros números
rabisco
desenho
marco
pra não perder
pra não me perder
mesmo assim
acabo
perdendo o que anoto
porque com ela
me perco
anotando...